Essa tal de sorte...

Em mais de um ano morando no exterior, sentimos que fazemos parte de 1% das pessoas que se jogam pelo mundo e se sentem realmente realizadas. 

Claro que contamos com a sorte em me sentir em casa desde o momento em que finalizei a arrumacao das malas antes da partida e mantenho o mesmo sentimento de pertencer a um lugar tao peculiar. 

Tambem contamos com a sorte de ter a oportunidade de morar num local com valores mais acessiveis e mobiliado, ao inves de chegar no desconhecido arriscando novamente nos cercar de itens temporarios que se tornariam oficiais.

Tambem contamos com a sorte de no mesmo bairro, encontrar uma comunidade que compartilha de um estilo de ser similar aos nossos e que nos acolheram com muito carinho e respeito.

Tambem contamos com a sorte de conseguir empregos na nossa area e com salarios acima de nossas espectativas... 

Mas sera mesmo que isso tudo foi sorte??

Nos decidimos que queriamos mudar. E essa decisao se deu a mais de 13 anos atras.

E durante esses mais de 13 anos, nos dedicamos muito a nossa formacao academica, como pos graduacao e, no meu caso, tambem a uma nova graduacao. Afinal, quando decidissemos sobre nosso novo lar, tambem queriamos ser escolhidos pela nossa capacidade de agregar valor a sociedade (dentro do que consideramos que fazemos bem).

E durante esses mais de 13 anos, fomos moldando nossa mentalidade, acreditando que ja haviamos conseguido, que j'a tinhamos alcando o sucesso profissional, que a vida estava mais leve, que ja tinhamos o tao sonhado conforto, seguranca, qualidade de vida em geral. E foram altos e baixos nesse processo.

E durante esses mais de 13 anos, fomos aprendendo a desapegar, viver com menos objetos, porem de maior qualidade. aprendemos a diminuir ainda mais nossos gastos e necessidades. E mais altos e baixos.

A mudanca propriamente dita aconteceu quando decidimos nosso destino e corremos atras de documentos, com o marido se auto demitindo do ate entao "emprego estavel e promissor". Ao mesmo tempo que buscavamos oportunidades de trabalho no destino escolhido. E foi uma correria louca durante esse processo.

(Apos varios "nao", e ausencias de resposta e mesmo a gente se fala quando voces ja estiverem aqui) conseguimos uma vaga em uma das mais bem conceituadas instituicoes do pais e do mundo. Isso nos garantiu a possibilidade de moradia bastante confortavel e pratica durante todo o primeiro ano aqui. E com isso, pudemos aproveitar para conhecer sobre lojas e produtos que foram adquiridos com calma meses depois ou quando decidimos avancar mais um passo, incluindo mudanca de endereco.

Mas o primeiro ano nao foi facil ou simples... durante os primeiros 6 meses, pagamos para o marido trabalhar, literalmente. Depois nos 3 meses seguintes, ele recebeu apenas metade do valor combinado da bolsa. E somente no 8o mes trabalhando, ele finalmente recebeu o combinado.

Se esta certo isso? Nao. Mesmo assim, mesmo desanimando muitas vezes no meio do caminho, sempre lembravamos um ao outro do porque tomamos tal decisao, e continuamos firmes. Afinal, em nossos coracoes, ja estavamos dando certo. E foram varias vezes que chegamos a comecar a sentir raiva do "supervisor" do marido, mas no final, ele tambem foi um catalizador para nossa mudanca, o que sempre nos fazia lembrar de que apesar de tudo, eramos primeiramente gratos a ele.

Os primeiros 6 meses, fiquei responsavel pela manutencao da adaptacao do pequeno nas rotinas bem como de aprender o idioma local. Foi muito bom esse tempo, pois tive a oportunidade de curtir meu filho e minimizar o sentimento de culpa que criei por conta das epocas corridas da segunda graduacao.

Apos 6 meses, enviei meu curriculum para 4 das 6 principais clinicas veterinarias da cidade e fui super bem recebida em todas e optei pela que mais gostei. Foram 6 meses de muito aprendizado. Como ainda nao validei meu diploma de veterinaria e optei por manter a possibilidade de visto temporario de trabalho em stand by (sem gastar todas as minhas fichas de uma so vez), acabei me tornando auxiliar de veterinario. Mas minhas fiuncoes incluiam principalmente faxinas (sim,,, incluindo limpar privada).

E sabe o que aconteceu? Independente do super curriculum incrementado, realizei todas minhas tarefas com muita motivacao e fazendo o melhor que eu podia. Eu sempre fui muito gentil com todos, carinhosa com os pacientes e seus tutores, seria durante os atendimentos (me antecipando as necessidades dos veterinarios). Na hora da faxina, eu sempre cantava. E fazia a faxina como se deve fazer retirando tudo do lugar, limpando todos os cantinhos e locais nunca antes "pensados" (o que surpreendeu a todos, o que foi uma surpresa para mim). Cantando e sorrindo.

Com 3 meses trabalhando na tal clinica, um dos meus chefes se ofereceu para me indicar para uma vaga super interessante em uma multinacional. Aceitei logo de cara, E continuei me esforcando ainda mais nos meus afazeres na clinica em forma de agradecimento. Apos passar nas 3 fases do processo seletivo (1 por mes), entrei para a equipe da tal empresa, num cargo que eu jamais imaginaria obter, pelo menos, nao no Brasil. Minha primeira atitude ao saber do resultado, alem de ontar para minha familia, foi o de agradecer a esse veterinario.

Fiquei curiosa em saber qual a rprincipal razao dele ter me indicado para tal cargo e ele me disse que meu curriculum e realmente admiravel, mas muito mais do que isso, minha postura sempre foi positiva e construtiva. E isso se confirmou inclusive com o agradecimento.

E nao parou por ai... Meu marido estava a ponto de desistir do laboratorio em que ele trabalhava por razoes particulares e de saude. Foi quando um telefonema mudou por completo nossa situacao por aqui... Lembram que comentei que antes de virmos para ca recebemos o " a gente se fala novamente quando voce estiver aqui". Pois entao... uma semana antes da vaga na universidade surgir, um head hunter da atual empresa que o marido trabalha o contactou interessado em contrata-lo. Mas como ainda estavamos no processo da mudanca, ele resolveu tratar sobre o assunto por aqui. E soubemos que ele se desligou da tal empresa, a tal vaga sumiu...

No entanto, a tal pessoa se re-ligou a empresa, e a tal vaga, desde entao, ainda estava em aberto. A verdade e que a empresa havia tido alguns problemas, as contratacoes haviam sido canceladas, infelizmente muita gente foi demitida (muitas delas fazem parte inclusive da empresa que trabalho). Apos o baque, reabriram a vaga e o mesmo head hunter entrou em contato com meu marido. Um mes apos a minha contratacao, ele comecou nessa empresa.

Abrir mao da vaga na universidade implicou num prazo de 1 mes, apos o desligamento com a instituicao, para nos mudarmos.

Eu tenho "mania" de comprimentar as pessoas na rua e no transporte publico (dizer bom dia, boa tarde, boa noite), principalmente pessoas idosas. E muito bacana ver que a pessoa se sente feliz pois alguem a enxergou. E geralmente, se resolvem estender o papo, eu vou logo aceitando pois e uma excelente oportunidade de treinar o idioma local. Numa dessas, cruzei com um casal de velhinhos... quando os cumprimentei, o senhor comecou a conversar comigo como se me conhecesse a tempos, enquanto a senhora pareceu ficar constrangida. Imediatamente percebi que se tratava de Alzeimer. Por isso, fiz questao de ser ainda mais gentil para com os dois.

Logo apos minha contratacao ja tinhamos iniciado a busca por um novo lar. Foi quando uma pessoa da comunidade que fazemos parte, indicou um apartamento que vagaria no mesmo predio que ela mora. E ai entra o casal que comentei no paragrafo acima e que pareceu meio fora de contexto... Realmente o diagnostico e verdadeiro, e a necessidade de se ampliar os cuidados do senhor, eles optaram por se mudar para a casa de um dos filhos do casal, que mora mais proximo do hospital onde ele realiza o acompanhamento. Assim, o apartamento desse casal estaria vago exatamente para o periodo que queriamos. A senhora se recordou de nosso encontro e ficou feliz por sermos nos.

Para a mudanca, tinhamos muito poucos pertences, apesar das camas serem grandes. Nao fomos muito felizes na escolha dos individuos que realizaram a mudanca pois ele danificaram um pouco as camas. Alias, eles deixaram uma porcao de coisas para tras o que significou um trabalhao extra para gente... 

Nesse meio tempo, perdemos o timming na hora de comprar a geladeira, a maquina de lavar/secar e o fogao. Foram duas semanas comendo industrializados. Somente depois de dois meses finalmente compramos mesa de jantar e cadeiras. Com quase 6 meses morando neste novo endereco, ainda nao adquirimos um sofa.

Basicamente, antes de comprar os itens, resolvemos experimentar e tentar vivenciar uma rotina sem eles... A mesa com cadeiras sao importantes para termos conforto para comer. Sem contar que e a possibilidade de sentarmos juntos e conversarmos. Para garantir que estariamos sempre a mesma distancia um do outro, a mesa e redonda.

Com relacao ao sofa, atualmente usamos colchoes de solteiro (usado por visitas), mas como estenderemos mais um ano no mesmo endereco e como realmente um sofa se faz muito mais confortavel que os colchoes, provavelmente proximo mes nos dedicaremos a experimentar os modelos que ja pre selecionei a meses atras, mas so sei deles por fotos.

E a duvida era quanto tempo ficariamos nesse novo endereco sendo que nosso contrato foi por 6 meses. Infelizmente esse tempo nao foi suficiente para decidirmos onde morariamos em seguida, entao, por via das duvidas, optamos por estender nossa estadia por mais um ano nessa mesma casa, considerando diversos pontos:

- Nosso pequeno ja estar matriculado numa escola que queriamos para o proximo ano letivo
- Ja pertencemos a uma comunidade
- Ja estamos adaptados ao lugar
- Praticidade para ir e vir para ambos os trabalhos
- Nao precisaremos de um segundo carro
- Aqui todas as cidades sao muito bacanas, mas a que nos moramos desde que aqui chegamos e muito especial... acho que nao sairemos daqui tao cedo...

Enfim... sera sorte ou disposicao aliada a paciencia (muita paciencia!) para fazer as coisas acontecerem? 

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