Sentimento de solidao morando no exterior

Parte da minha familia mora fora do Brasil e certa vez ouvi sobre se sentir sozinho, mesmo com tudo dando certo. Parando para pensar bem, absolutamente todos eles, pelo menos uma vez, falaram sobre esse sentimento... Confesso que revirei os olhos e quando nao falei em voz alta, pensei sobre quao exagerada era a fala, sendo que todos estavam mutio bem encaminhados e tal.

E eis a verdade da frase sobre o mundo da voltas...

Eis que mais de um ano se passou desde que mudamos de pais, eis que temos absolutamente tudo o que nos motivou a sair.... seguranca, saude, educacao, qualidade de vida, trabalhos e renda que jamais imaginariamos ter no Brasil... estamos mobiliando a casa de acordo com o que realmente queremos, fazemos parte de uma comunidade e estamos cercados de pessoas incriveis...

Mas, em meio a tudo isso, de repente comecei a sentir algo estranho, um vazio. E os dias foram passando, e ele foi crescendo e se fez notar mesmo com os passeios que agora se tornaram parte de nossa rotina, mesmo enquanto me pegava admirando a paisagem daqui, que considero magnifica. 

E, no lugar das musicas classicas que sempre me ajudam na concentracao, comecei a escutar rock pesado para tentar abafar o som dos meus proprios pensamentos enquanto buscava vasculhava artigos na internet sobre o que estaria acontecendo comigo... Para minha surpresa era o tal do sentimento de solidao que outrora julquei como frescura... 

E mais uma vez a vida me mostrou a importancia de nao julgar ninguem, principalmente se nunca passamos por algo similar. Ao mesmo tempo, bateu a empatia dentro de mim e desejei ter abracado cada um dos parentes na epoca em que eles dividiram comigo essa experiencia. 

Nao se trata de arrependimento, pois aqui me sinto em casa, me sinto parte do todo (fora de cogitacao voltar ja que nunca senti isso no Brasil), nao se trata de culpa (pois pela primeira vez parece que tomei uma decisao pensando em mim e nao somente em terceiros), nao se trata de nao conseguir ficar sozinho (adoro ter momentos  eu comigo mesma)... e algo muito, muito mais profundo  e que palavras nao necessariamente nao conseguem explicar... 

Primeiro e ser capaz de se comunicar sem ter que toda hora formular frases em sua cabeca e traduzi-las (no meu caso para 2-3 idiomas diferentes pois em Israel todo mundo e bi-trilingue), e comentar algo de sua infancia e ninguem ter ideia do que se trata pois a cultura e diferente o que inclui experiencias diferentes,

E de repente voce querer dividir algo que voce considera incrivel ou mesmo terrivel com alguem e de repente ter que esperar que essas pessoas acordem ja que o fuso horario difere entre 5-7 horas dependendo se e horario de verao ou nao... 

E saber que o seu abraco reconfortaria o outro que te mandou uma mensagem dividindo alguma angustia, ou felicidade, pois sabe que voce consegue entender como ele se sente, e o verso seria verdadeiro tambem. 

E saber que em breve voce tambem nao mais sera parte do lugar de onde voce saiu, mesmo que ainda existam pessoas importantes por la... 

E, depois de ler bastante sobre o assunto, e tambem falar sobre isso com algumas pessoas que passaram por isso bem antes de mim, entendi que esse sera um dos onus que me acompanhara nesse novo ciclo. Sei que o inverno sera o momento mais desafiador para mim, pois e quando ficamos mais introspectivos e tambem mais sensiveis. 

Mas re-lembrar as razoes que nos trouxeram aqte aqui, celebrar as pequenas e grandes conquistas diarias, perceber a ligacao entre o marido e eu que antes era forte, ficar mais firme ainda, estreitar as bases de minha familia enquanto acompanhamos o desenvolvimento de nosso pequeno, sabendo que ele esta recebendo principalmente atencao integral da nossa parte, sem dividi-la com nossas preocupacoes. Enfim, problemas existem em todos os lugares, mas nossa realidade aqui pesa muito mais positivamente. Isso nao tem preco.


UM HOMEM PRECISA VIAJAR


Pior que não terminar uma viagem é nunca partir. 
Um homem precisa viajar. 
Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou tv. 
Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. 
Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. 
Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. 
Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. 
Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. 
Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” 
O mar não é um obstáculo: é um caminho. 
Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir" 
Passados dois meses de tantas histórias, comecei a pensar no sentido da solidão. 
Um estado interior que não depende da distância...Nem do isolamento; um vazio que invade as pessoas... 
E que a simples companhia ou presença humana não pode preencher. 
Solidão foi a única coisa que eu não senti, depois que parti...Nunca...Em momento algum. 
Estava, sim, atacado de uma voraz saudade. 
De tudo e de todos, de coisas e de pessoas que há muito tempo não via. 
Mas a saudade às vezes faz bem ao coração. 
Valoriza os sentimentos, acende as esperanças e apaga as distâncias. 
Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudade...Mas não estará só! 
Um homem precisa viajar, por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros e tevês, precisa viajar, por si, com os olhos e pés, para entender o que é seu … 
Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. 
E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. 
É preciso, antes de mais nada, querer.

Amyr Klink

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