O Outro Lado da Moeda

Quando comecei a ler e me interessar pelo minimalismo e simplificação, foi unanime o conselho: "Se você quer mudar, mude a si mesmo, não imponha sua decisão aos outros, no máximo seja exemplo". 

A medida que você vai se aprofundando nesse conceito, inicia a pratica do desapego, destralhe e simplificação do dia a dia, o impulso inicial é querer dividir a sensação com aqueles que você mais considera. Alguns acabam aderindo parcialmente, outros se aprofundam até mais que você, mas sempre existirão aqueles que se manterão firmes a seus conceitos previamente formados. E desses últimos, sempre haverá aqueles que tentarão te fazer regredir. E é sobre esse último que trato neste post...

A gestação é um momento mágico e me sinto uma privilegiada por ter tido essa oportunidade, porém ela não é nada romântica: enjoos, indisposição... mas o que mais "pegou" nesse período foram fatores externos. Temos pessoas maravilhosas que nos acompanharam desde o dia que descobrimos que estávamos grávidos. São aqueles que considero como família do coração. Sempre dispostos a relatar suas próprias experiencias, sugerir reflexões, se colocarem a disposição para qualquer necessidade.

O mesmo não posso dizer da linhagem biológica. Seria mentira minha dizer que eles não gostaram da novidade. Alguns periodicamente buscavam novidades a nosso respeito e principalmente sobre o pequeno. Mas a verdade é que pouquíssimos realmente fizeram questão de participar e vivenciar esse momento conosco. É claro que ninguém espera esse tipo de resultado, mas ok. Mais ajuda quem não atrapalha. Só que não...

Os amigos, nossa família de coração, foram simplesmente sensacionais pois nos deram um norte sobre o que pensar/avaliar sobre a nova fase. Isso foi importantíssimo para tentar encaixar as necessidades do novo membro da família de forma a manter o estilo de vida que escolhemos para nós. Montamos nós mesmos o enxoval, o que nos fez nos sentir bem pelo fato de que fomos capazes de nos organizar de forma a suprir, sem depender de ninguém, o nosso pequeno. É claro que ganhamos muita coisa! Sim: roupas, acessórios, brinquedos, fraldas (coisas super uteis)... mas o grosso, a parte pesada mesmo, ficou exclusivamente por nossa conta. 

E estava tudo certo até que o final da gestação chegou e junto com ela uma porção de situações estressantes: mudança de casa as pressas, organização a jato, mais aquisição de novos artigos que se tornaram necessários, finalização de detalhes relacionados ao bebê. Até ai, tudo contornável, problema nosso. A ajuda que tivemos durante a mudança fez surgir comentários sobre nossa geladeira ser pequena demais, que precisávamos trocar de sofá/televisor, que temos pouco disso e daquilo... depois evoluíram para a oferta de uma cama de solteiro para ser colocada no quarto do bebê, o que foi aceito já que o marido e eu já tínhamos decidido sobre os benefícios dessa aquisição.

Mas esta abertura fez a coisa desandar: como se quisessem tirar o atraso, provar que se importam, os mesmos que trarão a tal cama, trouxeram panos de prato/rosto/fronhas avulsas/tapetes, vaso de flores de mentira (odeio e já tirei daqui!), porta escovas/pasta de dente. Compraram cortinas para nossa sala (necessária por questão de privacidade) do gosto deles e recentemente, acabei de descobrir que em breve chegará um roupeiro (cujo formato/tamanho desconheço) para ser colocado no quarto do pequeno! QUEM DISSE QUE EU QUERO/PRECISO DE UM ROUPEIRO!? O quartinho do pequeno está lindo e arejado, não cabe absolutamente mais nada la dentro! E a tal pessoa teve a cara de pau de falar que sabia que eu ficaria irritada mas que depois de instalado eu iria gostar! Juro que tentei ser política, explicar que não era necessário, que não tem onde colocar (e tenho que ouvir que a comoda do pequeno iria para o meu quarto!!! meu quarto que está perfeitamente arejado!!), mas fui literalmente ignorada porque todo mundo sabem, melhor do que eu, o que é melhor para mim mesma...

É claro que estou muito, mais muito irritada mesmo com o desrespeito e falta de consideração. Considerando que o marido tem tido que ir trabalhar e tenho ficado sozinha em casa, decidi que no máximo receberei tal encomenda mas não permitirei que ela seja montada (apesar de que nem quero receber). Não pretendo me expor, sozinha, com rapazes estranhos na minha casa mas, ainda assim, terei uma caixa entulhando algum canto dela.

Temos nos sentido literalmente invadidos, desrespeitados. Essas mesmas pessoas sabem bem que temos prioridades urgentes para resolver, e, que se focassem em qualquer uma delas, isso seria sim uma ajuda efetiva. A tempos praticamente paramos de "presentear" as pessoas com objetos inúteis. Em geral a gente costuma perguntar o que a pessoa em questão precisa. Se não queremos tralhas em nossa vida, quem somos nós para entulhar a vida de terceiros? 

Por essas e outras cada dia que passa temos mais certeza que pagar (a estranhos) pelo que precisamos, é menos custoso do que pedir ajuda "de graça", pois o custo do "de graça" geralmente é mais custoso, principalmente emocionalmente!

Algum de vocês já passou por isso? Como reagiram?

Comentários

  1. Olá, já passei por algo parecido. Nós resolvemos nos casar em pouco tempo, então o dinheiro estava curto para tantas coisas básicas que precisávamos. Vendo essa situação alguns parentes resolveram nos "presentear" com as coisas que estavam faltando segundo a ideia deles. Encomendaram um jogo de cama e guarda-roupas, sofá, mesa de jantar com cadeiras e cortinas conforme o gosto deles, sem nos consultar! Perto da data do casamento, eles colocaram tudo encima do caminhão e mandaram entregar lá em casa! Eu fiquei muito, muito brava! Não gostei dos móveis, foi péssimo, eu não queria ofender as pessoas e também não pude falar muito para o meu marido, porque foram os parentes dele que mandaram tudo! Que situação! Eu recebi tudo, e na primeira mudança que fizemos eu me desfiz de todos os móveis que eu odiava todos os dias!
    É péssimo tomar esse tipo de atitude sem consultar as pessoas, eles não sabiam se nós queríamos ou não. Naquela época a nosso prioridade era nossa filha que estava a caminho, nós queríamos adquirir as nossas coisas aos poucos, de acordo com a nossa capacidade financeira e nosso gosto.
    Hoje não tenho vergonha de dizer que não quero!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Andreia! Obrigada pelo seu comentário. Consigo me colocar em seu lugar! Imagine você que não fazem nem duas semanas já soltei o verbo com essa mesma pessoa sobre questões bastante complicadas, mas parece que o fato dela ter ouvido as "minhas verdades" fez ela querer (?) demonstrar qualquer tipo de afeto através da aquisição de coisas que ELA acha que eu preciso. Diálogo diminuiria e muito situações desgastantes como estas, mas infelizmente parece que as pessoas cada vez mais acham que "suas verdades e necessidades" são as mesmas das pessoas que as cercam, ou pior, querem nivelar os que os cercam para o mesmo nível... O que mais me chateia nessa história toda são as pessoas se aproveitarem dos momentos em que nos encontramos mai sensíveis como é o período da gestação e início da maternidade, momento tão especial e que mereceria apenas apoio e carinho. Felizmente, e imagino que tenha sido também o seu caso, sempre tem aqueles que estão dispostos a vivenciar o verdadeiro significado desse momento conosco! Que você tenha uma linda e proveitosa semana! Obrigada novamente!

      Excluir
  2. Eu te entendo apesar de não ter passado por algo assim. O mais perto que já me aconteceu foi o seguinte: comecei a ter uma vida mais minimalista, me desfiz de muitas coisas que não precisava, doei muito e comecei a viver com o essencial e com aquilo que realmente uso porém uma pessoa da minha família "achou" que eu estava ficando "pobre" e não entendeu meu propósito e resolveu começar a me presentear com várias coisas. Aceitei apenas 1 ou 2 presentes (de coisas que julguei úteis e usáveis) e quando tudo começou a passar dos limites eu me vi numa situação delicada. Até que um dia eu disse: "desculpe não quero parecer ingrata mas não aceito esse presente pq não quero e não preciso disso e pq não vou usar. Dê para outra pessoa ou troque por algo pra vc e por favor respeite minhas escolhas". A partir daí tudo melhorou!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola! Obrigada pelo seu comentário! Também tive a impressão de que as pessoas pensaram que eu estava ficando "pobre" durante nossos destralhes. O engraçado é que praticamente tudo foi doado ao invés de vendido, vai entender. Com relação a dizer que agradeço a intenção mas não quero/preciso, infelizmente não tem dado resultado. Literalmente nossas decisões tem sido ignoradas por essas pessoas (ou seja, não existe abertura para diálogo e entendimento), que são os parente mais próximos que eu poderia ter (o que me deixa mais triste ainda). Já me afastei bem deles (moramos em uma cidade distante por anos e foi ótimo! mas tivemos que retornar e a coisa pesou novamente). Por enquanto é um dilema pois ainda não sei se terei o direito de afastar o pequeno deles... Decisão difícil...
      Obrigada novamente e que você tenha uma linda semana!

      Excluir
    2. E completando...no meu caso foram objetos de pequeno porte e roupas...e quando falei isso a pessoa ficou brava, se ofendeu me disse: "mas você precisa". E eu fui firme e disse: obrigada mas não quero e realmente não preciso. Demorou para que tal pessoa entendesse? Sim!! Houve desgaste emocional?? Sim!! Mas eu fui firme: se você continuar me presenteando eu continuarei dando embora aquilo que eu não preciso. Você vai ter o trabalho de comprar e devolver ou trocar além de gastar dinheiro a toa!! Aprender a dizer não foi uma das coisas mais difíceis para mim mas também algo libertador!! Às vezes as pessoas (algumas) só entendem do jeito mais difícil! Hoje não passo mais por isso mas precisei me impor, explicar e argumentar! Mas sei também que precisamos saber dosar as respostas de acordo com as situações e casos, não sou muito a favor de radicalismos e às vezes as pessoas não estão agindo assim por mal, apenas por falta de diálogo ou compreensão...só tomei essa atitude pq vinha sendo algo recorrente e insistente. Tenha uma ótima semana!!

      Excluir
    3. Essa questão de dizer não realmente ainda é um desafio para nós. Melhoramos e muito nesses últimos tempos, mas ainda é trabalhoso quando temos que lidar com pessoas cuja abertura é limitada apesar de existir a proximidade, como é o caso com parentes de primeiro grau. Em geral, sempre prefiro achar que a intenção é boa, mesmo quando o contexto diz o contrário. De qualquer forma, já avisei que em casa só entrará o que meu marido e eu acharmos que será pertinente... tanto que já montei uma sacolinha com todos os artigos que nos foram dados e que não pretendo manter aqui dentro e devolverei para quem os trouxe aqui. Muito obrigada pela ajuda!!! Lindo dia para você!

      Excluir

Postar um comentário

Obrigada pelo interesse e pelo comentário!