Boas Ações x Gratidão

Pessoalmente, sou o tipo de pessoa que prefere não declarar aos muitos ventos as ´boas ações´ praticadas. Para mim, uma ´boa ação´ só é boa ação quando ninguém precisa saber que esta foi feita (na maioria das vezes, nem mesmo a pessoa ajudada sabe quem a ajudou)...

Porém, recentemente vivenciei uma situação que muitos considerariam uma boa ação, sem dúvida alguma, mas, após alguns segundos, não estou bem certa se me senti bem por tê-la praticado... então, resolvi descrever a tal situação, para tentar colocar as idéias no lugar.

Após meu almoço, fui abordada por um homem adulto, que ao invés de me pedir $, me pediu para comprar comida para que ele pudesse dividir com a esposa dele, grávida de 2 meses. Eu jamais negaria comida para qualquer ser vivo na terra, e tão logo ele pediu, me levantei e respondi: ´claro!´ (muito grata por ser capaz de me auto sustentar). 

Ele disse que queria um lanche do McDonalds (ao invés de refeições tradicionais). Imediatamente o senso de julgar veio como um raio, mas contive, imaginando que ele nunca deve ter experimentado um lanche desses e realmente poderia estar com muita vontade. Ele me acompanhou até a loja, mas preferi pedir por conta o tipo de lanche pois estava com dinheiro contado e ainda precisaria passar na farmácia e voltar para casa. O valor (para lanche, batata e refri) foi o dobro do que eu gasto comigo nas raras vezes que eu vou a tal loja. Mas até esse momento, eu realmente estava satisfeita em saber que podia ajudar e sabia que tal valor não me faria falta.

O problema foi que a pessoa achou ruim o fato dele não ter escolhido o lanche e ainda deu indireta de que bem que eu podia aproveitar e acrescentar um sorvete... E nesse momento eu terminava de pagar, sendo que até mesmo o cobrador ficou sem graça pelo atrevimento do homem. No final, agradeci ao cobrador, pedi que ele entregasse o pedido para o tal homem e fui embora. 

Fiquei pensativa sobre essa situação: um homem adulto (sem defeito físico aparente), nitidamente não tem/não quer condições de se sustentar (e tudo indica que em poucos meses será pai, ou seja, responsável por outro indivíduo). Ele pede ajuda a um estranho que prontamente se dispõe a ajudar. Além de escolher o tipo de alimento ainda queria ter escolhido os ingredientes.

Ok, ele até agradeceu no final, mas a verdade é que a atitude de ´tentar um pouquinho mais, vai que´ realmente acabou com meu sentimento de satisfação pois, nitidamente ele não ficou agradecido pela minha atitude, dando a impressão de que `ela tem cara que tem muito dinheiro e está sendo mesquinha comigo´. Ele se baseou no que eu aparentava ser e/ou ter, ignorando o fato de que eu podia estar precisando daquela quantia. E o pior, é um lugar que tenho frequentado praticamente diariamente (ou seja, me expus e isso me deixa relativamente apreensiva).

Esse comportamento me lembrou que das vezes que ajudei outros, mesmo sem que os mesmos soubessem, a grande maioria apesar de realmente estar precisando da tal ajuda, quando recebeu gratuitamente a ajuda, achou que era pouco.

Por essas e outras, a cada dia começo a realmente acreditar que cada um tem aquilo que merece, seja muito ou seja muito pouco, simplesmente por ser isso que ela merece ou se esforçou para conseguir. Só nos tornamos merecedores de mais quando realmente sabemos apreciar o que conseguimos e também de apreciar a intensão dos que de alguma forma fizeram o que estava ao alcance para ajudar. Se as duas apreciações não andarem juntas, nunca seremos realmente merecedores de nada além do que já temos...

De qualquer forma, procurei focar na satisfação que senti inicialmente em poder ajudar sem me prejudicar. Mal sabia eu que meu dia ainda estava só começando e entendi rapidamente que, quando você se sente satisfeito/grato/feliz, ainda mais coisas boas chegam até você.

Estou num momento em que me encontro bastante sensível, ansiosa por conta de algumas questões pessoais. Foi quando uma pessoa que sempre cumprimento (aliás, faço questão de cumprimentar as pessoas, principalmente aquelas que vejo diariamente, mesmo que nem saiba seus nomes), puxou assunto e no decorrer da conversa, ele disse palavras bonitas que eu realmente precisava ouvir e isso me deixou muito feliz e até aliviou alguns medos que eu estava sentindo.

E para deixar o dia mais bacana ainda, eu estava me sentindo muito cansada, mas só poderia ir para casa quando o marido retornasse do trabalho dele, pois decidi fazer os horários dele por diversas razões. Eis que em seguida, recebo uma ligação dele avisando que ele chegaria bem mais cedo que o normal (chegaríamos em casa ainda com a luz do dia!). Ou seja, eu conseguiria chegar em casa mais cedo e conseguiria descansar mais cedo! Perfeição!!

Lição do dia: se você tentou ajudar alguém, mas este não soube reconhecer a intenção, mantenha-se firme e grato por ter sido capaz de ajudar, independente de qualquer coisa, e permaneça assim o máximo que conseguir pois, isso te mantém aberto a receber ainda mais situações que te farão se sentir ainda melhor! Funcionou comigo mais de uma vez!

Comentários

  1. Fiquei lendo seu relato e não sei se eu ajudaria nessa situação. Ou eu desistiria de ajuda-lo ou compraria outro tipo de alimento. Eu já passei por uma situação parecida mas foi uma grávida que me abordou com fome. Naquele dia a convidei para almoçar comigo no lugar que eu ia, deixei que ela escolhesse o que queria, nos sentamos juntas, conversamos um pouco e depois paguei. Foi estranho mas me fez bem, nessa época eu sempre almoçava sozinha e ela ficou grata. Acho ruim isso das pessoas as vezes acharem que temos a obrigação de ajuda-los. Podemos ajudar sim, quando queremos, quando sentimos que podemos mas não por obrigação né? Acho que faltou bom senso e gratidão da parte dele mas também acredito que a vida ensina isso sempre pras pessoas, numa hora ou em outra. bjs

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    1. Muito obrigada pelo seu comentário. Gostei muito do seu relato. Eu havia acabado de almoçar uma canja, mas dei a ele a chance de escolher o que ele queria comer. Sim, e passou rapidamente pela minha cabeça desistir de ajudar quando vi a cara abismada do cobrador, mas foquei que o estranho havia pedido comida. Alias, foi interessante pois me mantive consciente de todas as sensações e pensamentos, principalmente sendo capaz de brigar contra alguns que eu sabia que não eram construtivos. Considero que a experiência foi bastante positiva para mim e realmente desejo que a maioria das pessoas realmente tenham a oportunidade de entender os reais ensinamentos que a vida nos apresenta! Lindo dia para você!

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