Começando a Desapegar

Basicamente somos seres acumuladores por isso a idéia é tentar tirar proveito disso. Mas como?

Se você mora com os pais ou divide a casa com amis alguém, sugiro que comece com sua casa ou seu quarto. Porque? Porque nosso cantinho reflete o que realmente somos. Como a mudança verdadeira acontece de dentro para fora, me parece que esse seja um bom ponto de partida. Em nosso cantinho reproduzimos praticamente tudo o que gostamos e queremos, bem como o que não gostamos e não queremos. É como se fosse nosso reflexo no espelho.

Uma casa organizada, limpinha (mas não precisa ser asseptica!) reflete um dono cuidadoso consigo mesmo enquanto que uma casa bagunçada, cheia de objetos velhos, quebrados, armazenados de qualquer jeito, reflete um dono que está apegado a algum aspecto ou experiencia vivida no passado. Por favor, não considerem essa frase como julgamento, pois como eu já disse antes, cada um sabe onde o "calo aperta". De qualquer forma, não importa onde cada um de nós nos encontramos nesse momento, sempre teremos a oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores. Sempre, pois ninguem é perfeito (ainda bem, acho que seria muito monótono não ter desafios!).

Bom, voltando a falar sobre nosso cantinho, além de ele refletir nosso "eu" verdadeiro, é um ambiente onde temos praticamente controle absoluto sobre o que entra e sai. Acredito que se conseguirmos dominar nosso cantinho, conseguiremos transferir essa capacidade para outros aspectos de nossa vida. Ainda, é uma excelente maneira de aprendermos a nos controlar diante dos tantos apelos consumistas que existem.

Para isso, o primeiro passo é saber exatamente o que já possuímos e nos surpreendermos. Cômodo por cômodo, gaveta por gaveta. Porque descobrir? Porque você literalmente irá descobrir que já possui um monte de objetos que poderiam estar em uso no seu dia a dia, mas não estão pois você já nem se lembrava mais, de tanta coisa que você também possui e simplismente não servem para coisa alguma, a não ser aumentar a lista do "vai que...".

Outra coisa importante durante esse processo é que a grande maioria dessa turminha é potencial candidato a ser eliminado de sua vida, sem dor no coração. Ué, se você nem sonhava que já possuía esse ítem, como é que você saberia que poderia usá-la numa remota possibilidade de "vai que..."? O mais certo é que, num caso de necessidade, você simplismente arrumaria outro, por falta de paciencia de revirar a casa toda em busca da possibilidade de já ter "aquele" objeto específico.

Caso você esteja convencido sobre isso, por onde começar? Escolha um cômodo. De preferencia o menor e que aparente ter menos objetos. Que tal o banheiro? Porque? Porque se você ainda não está familiarizado ou acostumado com esse processo, talves seja melhor testar. E nada melhor que um comodo compacto para evitar a preguiça, cansaço, desânimo na hora da faxina do desapego. Tire tudo dos armários e gavetas, jogue fora produtos vencidos, embalagens vazias. Para que 5 pentes, 5 escovas... "Mas vai que eu precise de uma embalagem de shampu para..." - esqueça desse "e se...", desapega dessa introdução. "Se" precisar da embalagem, você espera o shampu que está usando atualmente acabar e usa a embalagem dele. Tem estoque de pasta de dente? Organize por data de vencimento e pare de comprar mais.

Quando terminar, sinta a diferença e caso tenha gostado, escolha o próximo cômodo e assim por diante. Provavelmente será necessário mais de uma "rapa" em cada cômodo. Isso acontece pois, mesmo que tenhamos decidido mudar, de uma hora para a outra, o processo de mudança de hábito não é tão repentino assim. Papeis velhos, objetos quebrados ou objetos que não tenham mais nada a ver com o seu jeito de ser atual, serão fáceis de serem eliminados. Porem no começo é normal ficar em dúvida com grande parte do que acumulamos até o momento da mudança. Quanto menos coisas possuirmos, mais fácil avaliar sua necessidade ou utilidade para nossa vida.

Ainda, um determinado grupo de objetos, geralmente livros e roupas, podem ser um grande tabu inicial. As roupas por estarmos acostumados a "ter" que aparecer sempre com algo diferente, já que é "feio" repetir peças em curto espaço de tempo. Larga disso... quem paga suas contas? Se o outro não ajuda, porque atrapalhar? Os livros exercem fascínio aos que gostam de ler, de obter conhecimentos gerais ou aprofundados. Sem dúvida o conhecimento está intimamente relacionado com poder. E como é que então poderíamos abrir mão disso? O mundo inteiro possui bibliotecas fenomenais, a internet também alimenta a sede de saber. Os livros de ficção ou de asuntos gerais, geralmente são lidos uma vez e mantidos guardados. Um ou outro são relidos duas ou tres vezes e outros pouquissimos sao relidos mais de tres vezes.

Na grande maioria das vezes, quando um livro é publicado, graças aos avanços tecnológicos e da pesquisa em geral, o conhecimento que ele contem, já está desatualizado. Por exemplo, no meu caso, muito embora eu goste de ler sobre uma grande diversidade de assuntos, por eu ser da área de ciências da vida, acabo focando mais nessa área, já que esta foi a profissão que escolhi para mim. Minha especialidade depende da capacidade de correlação entre diversas áreas da biologia e medicina. Porem, por anos eu mantive comigo livros de graduação de assuntos que nunc foram os meus preferidos e com os quais eu já sabia que não trabalharia. E desde que me formei, a 11 anos atrás, até re-estudei um ou outro assunto como forma de revisão de um ou outro tema. Mas na prática, tudo o que preciso é de uma internet para baixar os artigos científicos antigos e atuais para validar os resultados que obtenho. Ou seja, os livros que eu possuia antes, na verdade são só enfeites, mesmo porque, se eu precisar de alguma informação, posso tranquilamente me dirigir a biblioteca.

Quanto mais espaço você abrir na sua vida, mais espaço você abrirá para que outras experiências surpreendentes aconteçam com você.

Imagens: makefor.com.br